Este livro é uma colectânea de contos do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Na primeira página reza assim: "14 contos fantásticos e histórias de uma elegância demoníaca". Está tudo dito! Se definisse Hitchcock numa palavra, seria mesmo essa - elegância. Apesar do elemento comum de todos estes contos ser a morte, tema pesado e sério, ele torna-a num ingrediente delicioso que nos faz querer mais e mais, descobrir os responsáveis, desvendar mistérios e participar em tramas complexas apesar de curtas. Isto só é possível com a tal elegância da escrita, uma desenvoltura ligada a uma das imaginações mais negras e mais férteis da arte.

Pioneiro e único no mundo do cinema, da literatura e da televisão, conhecido em todo o mundo e por todas as gerações, Hitchcock é um contador de histórias natural e escrevia sobretudo contos. Por um lado, apegamo-nos tanto às personagens que é uma pena quando a história chega ao fim mais depressa do que estamos habituados. Porque o autor é mesmo assim - capaz de nos prender em pouquíssimo tempo e dizer / fazer acontecer tanto em poucas páginas. É esse o meu maior desgosto com os contos de Hitchcock - queria mais! Por outro lado, é um estímulo mental de elevadíssima qualidade, uma cadência de acções que nos faz pensar, buscar soluções, que nos espanta e surpreende ao virar de cada página.

Entre as muitas histórias, temos por exemplo o caso do mistério do joalheiro assassinado a tiro na própria loja; o homem que se quer matar porque a mulher o trocou pelo melhor amigo; o caso do homem que apareceu morto fechado no seu próprio carro; o homem que conspirou para matar a mulher e ficar com a amante; enfim, um pouco do pior do ser humano está reunido nestas fantásticas histórias, misturado com boas doses de humor e ironia, e Hitchcock vale a pena a qualquer hora.

Procissão de Assassinos
De: Alfred Hitchcock
Ano: 1975
Editora: Impala
Páginas: 220
A nossa pontuação: ★★★☆☆

Disponível na Bulhosa.



472 escritores, entre eles 10 vencedores do prémio Pulitzer e 4 vencedores do National Book Awards, entre muitos outros prémios, assinaram uma carta aberta contra a candidatura de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América.

O movimento foi iniciado pelos romancistas Andrew Altschul e Mark Slouka e conta com a assinatura de 472 nomes, entre eles Stephen King, Amy Tan, Junot Díaz, Michael Chabon, Dave Eggers, Francine Prose, Tracy K. Smith, entre muitos outros. Esta carta aberta transformou-se agora numa petição pública que pode ser lida e assinada aqui.

Andrew e Mark decidiram promover esta carta pela frustração que é assistir à ascensão de uma figura política perigosa. Falaram com colegas escritores e em dois dias já tinham centenas de apoiantes. O objectivo é expressar a voz da comunidade em como Trump não se ajusta aos valores morais da América e passar essa palavra ao maior número de pessoas.

Leiam a carta, é fantástica, um apelo emotivo onde a frustração é palpável. Uma carta que repudia o uso da língua em nome do poder; que defende o pluralismo e a discussão de ideias; que apela à História de um país multicultural; que critica a manipulação, a divisão e as mentiras; que diz que um líder deve ter conhecimento, experiência, espírito aberto, consciência do peso histórico do país, em vez de incitar à violência ou denegrir as mulheres e as minorias.

O bicho das letras está com estes escritores. A falta de respeito tem de ser travada. Este senhor estar onde está é uma ofensa para qualquer um com dois dedos de testa.

Fonte: Buzzfeed

 
Quando digo "mau", refiro-me àquele livro, mais ou menos populista, que muitas vezes se pensa que fica a dever à qualidade literária tanto como tem, em excesso, o sensacionalismo de uma revista cor-de-rosa.

Quem é que não deu por si com uma edição da Harlequin nas mãos, sentindo a vergonha de "devia era estar a ler André Malraux"? Depois dizemos que era da avó Nélinha, que é uma viciada nestes quentes romances espalhafatosos das Sabrinas e das Biancas, coitada... mas no fundo até que nos rimos com as desventuras ardentes destes livritos que parecem uma telenovela mexicana daquelas que se viam à hora de almoço na RTP1 na década de 90.

Ou então o "As Cinquenta Sombras de Grey"? Vá, confessem! Todos conhecemos uma pessoa, daquelas para quem a literatura só existe quando criada antes do século XXI, que abomina flores e texturas nas capas dos livros, mas que um dia (o horror!) deu por si na casa da recém casada irmã mais nova, e encontrou um livro de que tanto falavam e a curiosidade foi mais forte : e pimbas! Vai que leu aquilo tudo, sofregamente, enquanto pensava: "isto é tão mal escrito! Mas já agora deixa cá ver o que é que ele lhe faz com o chicote".

Para mim, o meu "shame-on-me" livro veio com amigos, em modo saga.

Querem saber qual é?

Estão preparados?

Caso sejam seguidores deste blog até já sabem!

Ora... é a saga TWILIGHT!

CALMA! NÃO FUJAM! São vampiros, mas não mordem (muito).

E o vosso livro "da vergonha"? Qual é?

Desbronquem-se lá! Tenham coragem. E não vale dizerem que não, que vocês nunca!
Ah! E os livros "Uma Aventura" também contam! Ou um qualquer da Margarida Rebelo Pinto!
Existe uma cadeia de livrarias abertas 24 horas por dia que está a ser um sucesso tão grande que já se expandiu para 48 lojas em Taiwan, Hong Kong e China. O conceito parecia estar condenado ao fracasso, já que a principal premissa é um convite a todos para lerem à vontade, em qualquer hora, sem terem de pagar. Portanto, é quase uma biblioteca com opção de compra aberta o dia inteiro.

O curioso é que o período com mais clientes é entre as 22h00 e as 02h00 e ao que parece estão a roubar clientela aos bares, aos karaokes (muito populares por aquelas bandas) e às discotecas. Como muitos dos livros estão em inglês a Taiwan’s Eslite Bookstore já se tornou também uma atracção turística.

Para ter lucro, este conceito de biblioteca-livraria é acompanhado de muitas outras actividades, como degustação de vinhos, sala de chá, venda de roupa, café, restaurante, concertos, espectáculos de dança, exibição de filmes, cursos de culinária, e muito mais. Apesar disto tudo, o papel principal é dos livros. São eles o motivo que faz com que os clientes venham visitar e se deixem estar, à vontade, sem pressão. É um centro de leitura, de convívio, de artes, aberto todo o dia, sempre pronto a receber. Eu frequentaria!

Fonte: The Guardian








Kim, Ola, Gunnar e Seb são quatro pré-adolescentes que vivem na Noruega nos anos 60 e veneram tanto os Beatles que cada um tem a alcunha de um membro da banda, e é algo que levam muito a sério. Em cada novo lançamento, juntam-se, metem o disco a tocar e vivem um momento quase religioso de adoração à banda de Liverpool. Ouvem, ouvem outra vez, discutem o que ouviram, voltam a ouvir melhor. Que ninguém se atreva a dizer mal dos Beatles, que eles defendem-nos de garras afiadas com todo o ardor.

Neste livro assistimos às mirabolantes histórias destes quatro amigos e acompanhamos o seu crescimento à medida que o tempo passa. Começamos na fase na descoberta e de uma certa inocência, onde o aparecimento de uma revista pornográfica é acontecimento que merece honras de reunião na casa de banho dos rapazes com toda a turma. Uma fase em que jogar à bola e ir à pesca, passar noites a olhar para as estrelas e estar fora de casa sem aturar os pais é a melhor coisa do mundo. Depois, a prioridade passam a ser as miúdas, no despontar da adolescência que lhes traz amargura e desilusão como nunca antes tinham sentido. Daí até às verdadeiras preocupações aparecerem é um pulinho. Arranjar emprego, fugir das drogas e das más companhias, participar activamente na vida política ou apenas sobreviver rouba-lhes todo o tempo.

Lars Saabye Christensen é um narrador exímio que, através das palavras, nos oferece uma nostalgia e uma melancolia únicas. Não temos descanso na leitura, está sempre a passar-se alguma coisa que nos prende. Ao longo da leitura deste livro tantas emoções são despertadas - saudade, tristeza, dó, ternura, alegria, desilusão, esperança... - que se torna uma montanha russa. É uma autêntica viagem pela amizade e pelo seu verdadeiro significado, e todos nós conseguimos, num momento ou noutro, rever-nos em algumas das diversas vivências descritas. Lars empresta uma certa crueldade à escrita, uma crueza que, aliada a vários momentos de humor, transformam este livro num relato espantoso e tão verdadeiro que nos transporta directamente para os anos 60, para o rock n roll, onde os Beatles estão presentes, do princípio ao fim, mas não estão sozinhos.

Só há poucos dias soube que o livro foi adaptado para o cinema em 2014. Ainda não tive a oportunidade de ver, mas está no topo da minha lista de prioridades. É realizado por Peter Flinth, também norueguês como o autor do livro, e podem espreitar o trailer aqui.

Beatles
De: Lars Saabye Christensen
Ano: 1984
Editora: Cavalo de Ferro
Páginas: 560

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.


Não há canção-poema que faça mais juz ao nome do que esta. Os Trovante fizeram do fantástico poema "Ser Poeta", de Florbela Espanca, uma música que todos conhecemos intitulada "Perdidamente". É uma canção que remonta já a 1987 e que é um porta-estandarte da língua portuguesa e tem atravessado gerações. Musicada por João Gil e com a voz de Luís Represas, quem nunca sonhou alto e perdidamente com esta canção eterna?

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens, morder como quem beija
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja
É ter cá dentro um astro que flameja
É ter garras e asas de condor

É ter fome, é ter sede de Infinito
Por elmo, as manhãs de ouro e de cetim
É condensar o mundo num só grito

E é amar-te, assim, perdidamente
E é seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente...

E se fosse, qual seria a vossa livraria-modelo?

Eu gosto, particularmente, desta e desta

Paraísos na terra.
Estamos tantas vezes embrenhados na nossa vida e tomamos tantas coisas como certas, que quando chegam notícias destas é mais do que chocante, é surreal. Temos sorte por viver um país que, com tanta coisa de mau, tem pelo menos liberdade de expressão e qualquer um pode escrever o que quiser, onde quiser, ainda para mais sendo ficção. No Egipto, o autor Ahmed Naji está atrás das grades.

Depois de passar por um processo de revisão e censura, o seu livro foi publicado no Cairo em 2014. Mas posteriormente foi colocado um excerto numa publicação de Akhbar al-Adab e um leitor decidiu apresentar queixa. Alegou que as cenas com carácter sexual e drogas o puseram doente, com falha cardíaca e baixa de tensão. Então, o autor foi acusado de violar a moral pública. Ahmed, que no início do processo não queria acreditar no que estava a acontecer, viu-se envolvido num julgamento que culminou agora na sua prisão.

Nada disto parece real, é como se fosse um filme mau. É triste, é mesquinho, é um atentado contra tudo o que acreditamos e contra tudo o que também lutámos há algumas décadas atrás. Só nos resta mandar a Ahmed pensamentos positivos e de esperança na liberdade. Estamos com ele.

Fonte: Buzzfeed

 
Para além de advogado e de vocalista dos Mão Morta, Adolfo Luxúria Canibal é poeta, e dos bons. Não admira portanto que as músicas da banda sejam na sua maioria autênticos poemas, verdadeiras odes à nossa língua, inebriadas de um negrume sentimental.

Como canção-poema, escolhi hoje a "Tu Disseste" do álbum "Primavera de Destroços" de 2001. É um fabuloso álbum da banda de Braga e de lá saíram estandartes como "Cão da Morte" ou "O Jardim". Os Mão Morta são das bandas mais importantes e mais antigas do panorama português em actividade e vão aparecer por aqui mais vezes.

E agora, a fantástica letra de "Tu Disseste", por Adolfo Luxúria Canibal e Miguel Pedro, para ler acompanhada da música, com estas notas de piano para mim inesquecíveis:

Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."

Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. passo horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"


O Diário de Notícias fez uma lista das 50 obras mais importantes da literatura portuguesa, de todos os géneros. Foi preciso um mês para se chegar à lista final e muitas opiniões foram consultadas (António Mega Ferreira, Isabel Alçada, Nuno Júdice, Fernando Pinto de Amaral...) mas chegou-se finalmente à lista que podem consultar aqui.

Como em cada cabeça sua sentença, provavelmente vamos sentir falta de uma ou outra obra, mas penso que está uma lista bem representativa. É com alguma vergonha que assumo só ter lido cerca de um quarto dos livros desta lista mas orgulho-me de ter 6 deles na prateleira. E talvez o meu preferido de todos eles seja "O Livro do Desassossego" (nem é preciso falarmos da sua genialidade), mas é o "Aparição" do Vergílio Ferreira que quero destacar. Foi-me 'impingido' nas aulas de Português e fez-me apaixonar por Vergílio, embora a obra que mais me tenha marcado tenha sido "Escrever".

Vou lançar um desafio a mim própria e completar a minha lista.


A publicação Independent fez uma lista de 12 livrarias que tem mesmo de visitar, e é com orgulho que temos duas livrarias portuguesas entre as sugestões: a Livraria Lello e a Ler Devagar.

Porto e Lisboa estão muito bem representados. A Livraria Lello é um poço de história e mal entramos somos transportados para uma outra época. Imaginamos automaticamente a quantidade de pessoas que por ali passou ao longo de centenas de anos. É de um peso histórico inigualável e de uma beleza requintada. Para onde quer que o olhar caia, há pormenores fantásticos para admirar. É também um ponto de paragem obrigatório para imensos turistas, e talvez por isso agora seja cobrada uma taxa de 3€ para entrar. Por um lado compreende-se, mas por outro é algo surreal pagar para entrar numa livraria. De qualquer modo, vale a pena e é um pecado viver no Porto ou visitar a cidade e nunca lá ter entrado.

A Ler Devagar foi uma agradável surpresa num dia em que passeava pelo LX Factory. Entrei sem saber ao que ia e fui arrebatada. A decoração é fantástica, com objectos e obras lindíssimas espalhados pelo espaço. E pese embora as várias "distracções", os livros continuam a ter o papel principal e estão por toda a parte. É um sítio que, pelo menos por enquanto, é calmo, convida à leitura e a um café relaxado. Já lá estive também presente em workshops pela empresa, e é um sítio que reúne vários ingredientes importantes - simpatia, arte, ensino e disponibilidade.

Quem ainda não foi a estes dois espaços, aconselha-se que o façam pois estão a perder duas livrarias, completamente distintas mas tão belas na sua essência. Entretanto vejam todas as sugestões do Independent para quando riscarem estes dois itens da lista!



Fugindo ao tema pelo qual é mundialmente conhecido, o terror, em 1996 Stephen King escreveu "À Espera de Um Milagre" (The Green Mile), uma drama fantástico que conta uma das histórias mais belas que já conheci.

A trama decorre em 1932 e apresenta-nos John Coffey, um recluso negro com dificuldades cognitivas que foi acusado de matar duas meninas brancas. John é um homem enorme que provoca calafrios só de se olhar para o seu tamanho, mas Paul Edgecombe, o supervisor da prisão, apercebe-se rapidamente que John tem uma sensibilidade e empatia fora de série e tem qualquer coisa de muito especial dentro dele destinada ao bem. John está no corredor da morte condenado à cadeira eléctrica e o sentimento de injustiça cresce dentro de Paul, que estabelece uma relação de amizade com o recluso e tenta protegê-lo contra a violência e gozo de que é alvo.

O livro foi adaptado ao cinema em 1999 e conta com Tom Hanks no papel de Paul e com Michael Clarke Duncan na pele de John Coffey, ambos com prestações arrepiantes. O livro é dos meus preferidos de sempre e acabei-o totalmente em lágrimas. Depois fui ver o filme e aconteceu o mesmo. É uma história tão emocional que nem consigo pôr em palavras o que me transmitiu. Só lendo e vendo, coisa que aconselho a todos.

A Leya tem a resposta na ponta da língua e nós concordamos! Como é que visitamos o mundo, conhecemos novas culturas, pessoas fantásticas, paisagens extraordinárias e passamos pelas mais impensáveis aventuras, sem sair do mesmo lugar? Lendo, pois claro!

Ler expande a mente, torna-nos mais abertos e tolerantes, descobrimos novos mundos, soltamos a imaginação, aprendemos tanto e temos a melhor companhia sempre ao lado. Corremos o mundo, pulamos para outros planetas, viajamos no tempo, atravessamos oceanos, e tanto podemos estar no deserto num dado momento, e no seguinte estar no topo de uma montanha. Qual é o melhor meio de transporte do mundo, qual é?

Bom domingo e boas viagens!


Na escola primária da Quinta da Chã em Vila Nova de Gaia existe um programa de voluntariado com mais de três anos de existência que é um caso de grande sucesso. Duas vezes por semana, os voluntários têm momentos de leitura com crianças com dificuldades de aprendizagem, na maioria das vezes provenientes de meios pobres e com níveis educacionais mais baixos.

Os seis voluntários, para além de ensinar as crianças a ler melhor, são uma importante fonte de motivação e são estabelecidos também fortes laços de amizade. A directora da escola diz que para além da melhoria das notas, as diferenças no comportamento são palpáveis. Foram escolhidas seis crianças problemáticas que denotavam revolta e agressividade que, diz, se tornaram mais participativas, empenhadas e extrovertidas.

Naquela hora por semana, estas crianças têm um acompanhamento personalizado onde têm toda a atenção do mundo e isso faz toda a diferença. Nas palavras do aluno Rafael, "senti-me importante". E era assim que se devia sentir todos os dias.

Uma curiosidade interessante é que este grupo de voluntários faz parte da empresa Cetelem, que tem um programa de responsabilidade social e dispensa uma hora por semana do horário de trabalho dos colaboradores para se poderem dedicar à causa. É um grande exemplo e era formidável que outras empresas seguissem o exemplo. Porque a vida não é só trabalho, e porque estamos no nosso melhor quando ajudamos os outros e temos um propósito maior do que nós.

Podem conhecer as histórias fantásticas destes alunos aqui.


Devido ao nosso estilo de vida acelerado, estamos habituados a ler em todo o lado sem grande dificuldade. Eu pelo menos faço-o, seja nos transportes, na sala de espera de qualquer consultório ou à mesa de jantar. Mas adorava, ó se adorava, ter um refúgio destes no meu pequeno apartamento para mergulhar à vontade nos livros sem qualquer incómodo.

É claro que preferia ter um jardim e solinho sempre à minha disposição, mas estes refúgios indoor parecem tão confortáveis e tão chamativos que consigo imaginar-me em todos eles. Que boas e descansadas leituras faria! Vejam toda a lista no site Bored Panda e babem comigo.

(Aquele mesmo em cima do mar... pfff que sonho!)
















Ken Follett é um dos maiores contadores de histórias da literatura moderna. Apaixonei-me pelo autor quando uma colega me sugeriu o "Noite Sobre as Águas" e há muito tempo que não passava por uma experiência tão emocionante, daquelas em que não conseguimos parar de ler por nada deste mundo.

Depois disso li mais uns 10 livros de Ken Follet de seguida (assim mo permitiu a biblioteca ao pé de casa) e tornou-se rapidamente um dos meus autores contemporâneos preferidos. Especialista em romances históricos, o seu trabalho de pesquisa é abismal e reflecte sem espinhas realidades que estava longe de conhecer. A maneira como consegue suspender a acção e dinamizar o suspense é sublime, tornando-nos prisioneiros dos seus livros, sedentos mesmo, querendo beber tudo até à última gota e ansiando saber o que vem a seguir como se a nossa vida dependesse disso. Este talento é uma preciosidade e não é para qualquer um.

Neste "Uma Terra Chamada Liberdade", estamos em 1766, na Escócia, e Mack é um escravo branco a trabalhar nas minas de carvão da família Jamisson. Inconformado por ter sido 'condenado' à nascença a uma vida de inferioridade e trabalhos forçados, Mack tem planos para ser livre. Pretende fugir e deixar para trás décadas submetido a um trabalho pesado e mal pago onde é frequentemente maltratado pela inclemente família que o possui. A vontade de passar a palavra em nome da liberdade, de influenciar os outros a lutar pelos seus direitos e de querer ser mais do que a condição lhe permite coloca-o frequentemente em graves sarilhos.

No entanto, a ajuda vem da aristocracia, de Lizzie, nascida em berço de ouro e diferente de todas as mulheres que Mack já conheceu. Destemida, enfrentando tudo e todos, Lizzie luta também pela igualdade e importa-se verdadeiramente com os outros. E é assim que Mack, escravo e pobre, mas combatente e inconformado, e Lizzie, mulher sem medo, de boas famílias, mas rebelde, lutadora e incansável, vão, juntos, tentar mudar o mundo, ou o seu mundo, a caminho da liberdade.

Como não podia deixar de ser, tendo o selo de qualidade de Follett, a trama complexa não pára e deixa-nos atónitos a cada virar de página. As personagens são de uma densidade fenomenal e é com facilidade que escolhemos partidos, que torcemos por algumas e desejamos todo o mal do mundo a outras. É um livro viciante, imersivo e cheio de ensinamentos sobre a época em que possuir seres humanos era normal. A narrativa é sem dúvida das mais empolgantes que li nos últimos tempos e dá-nos um vislumbre essencial sobre como foi construir o Novo Mundo.

Uma Terra Chamada Liberdade
De: Ken Follett
Ano: 1995 (reedição de 2016)
Editora: Editorial Presença

A nossa pontuação: ★★★★☆

Disponível no site Wook.
ATENÇÃO! Esta publicação refere temas que devem ter bolinha vermelha no canto.


Bem... caso andem distraídos, o meu nome é Cusca, Naturalmente Cusca. E é o que sou, isso mesmo, sem tirar nem pôr. No entanto, sou também muito inocente e umas tantas vezes ingénua, características apenas ultrapassadas pela minha fértil imaginação. Deverão ter em conta estas informações quando vos contar mais esta curiosidade literária da minha vida...

Fui abençoada por viver numa casa com bastantes livros, títulos dos mais diversos faziam parte da decoração das estantes. Tinha por hábito dedilhar as lombadas à procura de algum que me chamasse à atenção. Assim fui passando a infância, entre os clássicos da literatura inglesa que pedia à minha mãe e os da literatura portuguesa que lá por casa já haviam.

Quando fui para a faculdade, longe da terra onde nasci, levei comigo os meus melhores amigos: os livros. Um deles era um livro meio gasto, cujo autor desconhecia, e que eu, meio tosca que sou, pensava ter o título "Jexus" (as letras do livro eram desenhadas!). Imaginava eu que era, então, uma história ficcional sobre Jesus, e que na capa a mulher representava Eva e a estátua um filósofo...

Certo dia decido começar a ler esse livro, tudo muito bem a início, mas imaginem a coloração das minhas bochechas quando percebo o que estou REALMENTE a ler : "Sexus", Henry Miller. O primeiro da trilogia composta por mais o "Plexus" e o "Nexus". Que vergonha...

Para quem não conhece (coisa que deve ser rapidamente corrigida), Henry Miller é o mais cru de todos os autores, roçando a pornografia no seu conteúdo erótico, ao mesmo tempo que consegue tecer das mais profundas considerações sobre a condição humana do indivíduo nas suas divagações.

O "Sexus" é um livro que se pensa autobiográfico, repleto de pensamentos e incursões sexuais que fazem parte da vida do génio que é o Miller com a sua primeira mulher (e mais umas quantas mulheres pelo caminho).

Pois, portanto... não era um livro sobre Jesus e a mulher da capa não era a Eva... e não há lá nenhuma Imaculada Conceição, isso vos garanto. Podem ir ler e confirmar. Se gostarem, além da trilogia que refiro, aventurem-se no "Opus Pistorum"... e quando digo aventurem-se, é mais no sentido de "preparem-se para ficar completamente perturbados". Não digam que não avisei.






Nota para os meus pais - Papá e Mamã, perdoem qualquer coisinha sobre a categoria dos livros, mas prometo que os li sempre na óptica da análise literária e que corei bastante nas partes mais picantes. Juro.
David Bowie, que mesmo depois da morte ainda não nos parou de surpreender musicalmente (ainda a semana passada foi revelada a mensagem escondida da capa de Blackstar) também nos deixou sugestões de livros que ele considerava imperdíveis. São nada mais nada menos do que 100 livros que um dos maiores artistas que já pisou o planeta disse que temos de ler, e se ele disse, eu, como fã de sempre e para sempre, vou seguir o seu conselho.

A lista foi revelada pela Art Gallery of Ontario que organizou a exposição "David Bowie Is", que contém uma colecção invejável - rascunhos, roupa, fotografias, setlists escritas à mão, e muito mais. Estas sugestões de leituras, que podem consultar no site da revista Arte Sonora, estavam incluídas na exposição.

Felizmente já li algumas das sugestões e por isso o caminho não é assim tão longo. Curiosamente já aqui falámos de um item da lista - o fabuloso "A Laranja Mecânica" de Anthony Burgess e sim, confirmo, o mestre tem razão, têm absolutamente de ler.


Há quem dobre a página, há quem use cartões, talões de multibanco ou bilhetes de cinema. Há quem use marcadores dos seus autores favoritos, folhetos, etiquetas, enfim, a forma de marcar as páginas dos livros é tão pessoal que há 1001 formas de o fazer (e todas legítimas!).

Estas que vos mostramos são exemplos de marcadores tão criativos que são quase pequenas obras de arte dentro de outras. Ora vejam: