O Deus das Moscas - William Golding

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Um grupo de rapazes vai parar a uma ilha deserta após um desastre aéreo. Ao início, tudo é um mar de rosas - sem a presença de adultos, a perspectiva de tomarem conta de si próprios até serem salvos é aliciante. E brincam, tomam banhos, vão à descoberta. Ralph, um dos rapazes mais velhos, cedo toma as rédeas da situação. Insiste na necessidade de construírem abrigos, procurar comida e, sobretudo, manter uma fogueira acesa para que o fumo se veja ao longe e possam ser salvos.

Com o apoio de "Piggy", o gordinho asmático e de óculos com sentido de responsabilidade, Ralph tenta incutir as tarefas a todos mas, enfim, estas depressa se revelam "uma seca" para os mais pequenos e para os mais ariscos ao trabalho.

Tudo começa a correr mal quando as animosidades entre os rapazes aumentam. Um dos mais velhos, Jack, faz frente a Ralph e o grupo divide-se. Jack insiste que o mais importante, até mesmo mais importante do que manter o fogo, é caçar. E dando largas ao espírito selvagem de cada um deles, pintam-se e dançam como selvagens e percorrem a ilha em busca da morte, da provocação da dor e do esvair da vida dos olhos de um animal, já viciados nessas sensações e adrenalina.

Quando se levanta a dúvida se haverá algum monstro com eles na ilha, questão levantada pelos mais novos, tudo descamba, visto que o medo é o pior aliado de quem não tem sentido de responsabilidade e já contém em si o bichinho da destruição... Há mesmo um momento específico no livro em que se nos corta a respiração e o coração pára durante uns segundos, tal é o inesperado e o chocante da situação. Mas tem muita força, e podem crer que é inesquecível.

É um livro genial e o Nobel atribuído ao autor é perfeitamente merecido. Não é apenas uma história de rapazes que tentam sobreviver numa ilha deserta - é o retrato perfeito da sociedade. São as dificuldades para manter a ordem e fazer ouvir as vozes da razão; são as figuras do contra que dispendem energia a mostrar como os outros estão errados; são os instintos primitivos a vir ao de cima em situações extremas; é o negrume que cada um de nós tem dentro a sair, tão facilmente, em situações de superioridade social; é o desrespeito por quem é diferente; é a impotência, a selvajaria, o animal que temos dentro à espera de um estímulo para mostrar a sua força. A civilização espelhada numa praia do Pacífico.

É um clássico que inspirou outras obras e autores e influenciou outras áreas. Há, por exemplo, várias músicas que têm "O Deus das Moscas" como inspiração. Falha minha não ter visto ainda nenhum dos filmes, mas existem dois baseados na obra, um de 1963 e outro de 1990. Irei colmatar esta falha rapidamente.

O Deus das Moscas
De: William Golding
Ano: 1954 (reedição de 2011)
Editora: BIS
Páginas: 256

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.

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