Ora agora isto é que vai ser enviar correio cheio de estilo! A Royal Mail criou uma colecção especial de selos dedicada ao nosso querido David Bowie. É uma homenagem fantástica ao homem-camaleão, cujo corpo nos deixou há pouco mais de um ano.

São dez selos ao todo, e seis deles referem-se a capas de álbuns: Hunky Dory, Aladdin Sane, "Heroes", Let's Dance, Earthling e Blackstar. Os restantes mostram o músico em diferentes digressões. Depois dos The Beatles e dos Pink Floyd, David Bowie torna-se assim no terceiro representante musical desta homenagem da Royal Mail.

São fantásticos e serão lançados em março.


Lembro-me de ter lido este livro ainda não tinha 20 anitos. Lembro-me que o adorei, e as suas linhas gerais ficaram-me na memória todo este tempo. Tinha vontade de o reler há muito tempo, e foi agora. E a minha percepção agora é completamente diferente.

É engraçado como isto aconteceu, e também inexplicável, mas agora, mais madura e experiente, o livro foi muito mais difícil de ler. Não é um livro fácil - a alternância constante entre espaços temporais e as frases metidas dentro de outras frases obrigam a uma atenção suprema, e que mergulhemos a cem por cento na trama. O que é tarefa árdua - por vezes o narrador muda sem nos apercebermos e demoramos a mudar o chip; os tais pensamentos que interrompem outros pensamentos obrigam-nos a reler; mudamos de ano e de personagens e tudo é completamente diferente a cada virar de página.

A história centra-se num casal, em que a mulher padece de uma doença terminal. O livro são basicamente as memórias dela, e do marido; mas também do irmão do marido (também ele doente); dos pais do marido; das irmãs delas, dos seus esposos e filhos; enfim, assistimos ao caótico drama familiar contado sob diferentes perspectivas e em diferentes fases, desde o momento em que tudo era tranquilo e perfeito até tudo acabar numa casa vazia, quieta, onde o silêncio é a presença mais forte e indesejada.

É forte, especialmente quando nos apercebemos da solidão destas pessoas e em como são ilhas isoladas nas suas dores. É poético, subtil, mas lá está, é uma aventura difícil num tipo de escrita onde tão cedo não me aventurarei. Mas, lá está, os nossos pensamentos também não são lineares, e este livro aproxima-se bem dessa leitura.

A Casa Quieta
De: Rodrigo Guedes de Carvalho
Ano: 2005
Páginas: 264
Editora: Dom Quixote

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
... esqueçam os centros comerciais. Quando na dúvida, vão à biblioteca. É tenho ganho, sempre!


O senhor Silva viu-se, aos 84 anos, sem o amor da sua vida que o acompanhou durante décadas. De repente, teve de cair em si e perceber que nunca mais veria o sorriso de Laura nem sentiria a sua presença a encher os sítios. E perguntou-se como é que alguém, nesta fase da vida, encontra ânimo para alguma coisa sem o farol que o guiava todas as noites.

Foi metido num lar. Uma história lida e ouvida milhares de vezes. A filha, sem saber lidar com ele. Ele, sem saber lidar com ninguém, metido num amuo contendo uma tristeza que lhe corrompia tudo por dentro, qual cancro de saudade e incompreensão. E este é o mote para uma história tocante, que nos toca e tocará a todos, que nos aproxima da morte e nos coloca na pele daqueles que são postos a esperá-la a qualquer momento.

Valter Hugo Mãe, através de uma linguagem diferente onde se expressa sem parágrafos ou sequer maiúsculas, coloca-nos na pele do senhor Silva, dá-nos lamirés do seu passado e conta-nos o seu presente sempre com o sentimento à flor da pele. Damos a mão a este "velho" como se fosse o nosso pai, ou avô, e damos por nós completamente embrenhados e a querer o seu bem. Com alguns laivos de humor que nos arrancam gargalhadas e que logo de seguida se podem transformar em lágrimas (fica o aviso), esta é uma história comovente e tremendamente bem escrita que fala da amizade, do amor, da família, da desilusão, tristeza, impotência, e muito mais. Uma das pérolas da literatura portuguesa, completamente recomendado.

E assim está finalizada o trio de livros de Valter Hugo Mãe que li de seguida, e este é, definitivamente, o melhor.

A máquina de fazer espanhóis
De: Valter Hugo Mãe
Ano: 2010
Editora: Porto Editora
Páginas: 320

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.

O gato da nossa infância e o seu grande amigo. Estes são eternos!  E para quem quer comprar os livros, avisamos que estão disponíveis no site Wook
Isto antigamente é que era... Falta de decoro era mostrar o pezinho numa missiva que demorava meses a chegar! Imaginem a impaciência do receptor ;)


Para os fãs da leitura digital, ou para aqueles que de vez em quando optam por este meio, ou se estão a iniciar nele, vale a pena mencionar a Bibliotrónica Portuguesa. Neste portal são disponilizados mais de 3.000 livros que pode ler online ou descarregar para o seu dispositivo de leitura digital.

Este projecto nasceu em 2007 no Departamento de Literaturas Românticas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e disponibiliza livros de todos os géneros. Entre o que podemos encontrar, estão livros que deixaram de ser publicados em papel, obras raras ou que não são aliciantes para a comercialização em papel e muito mais, incluindo livros de novos autores que querem divulgar o seu trabalho.

O site (que podem visitar aqui) também dá acesso a um blogue com as mais recentes novidades, conversas e partilhas.

É um projecto muito interessante e basta uma breve navegação para encontrarmos trabalhos muito bons. Este género de iniciativas é de louvar - incentivar à leitura e à partilha de informação é fundamental.

Via Comunidade de Cultura e Arte
Vaticanum, de José Rodrigues dos Santos. O romance editado em Outubro vendeu mais de 93.000 exemplares e liderou assim o top de vendas de Portugal no ano transacto.

O 16º livro do jornalista e escritor fala da corrupção no Vaticano, envolvendo o rapto do Papa. Traduzido em mais de 20 línguas e com um total de vendas que ultrapassa os três milhões de exemplares em todo o mundo, José Rodrigues dos Santos merece os nossos parabéns e um lugar de topo na literatura nacional e internacional.

Via Público


Este sim, um livro ao nível que esperava de Valter Hugo Mãe. Talvez por ser para todas as idades, estes contos têm uma linguagem um pouco mais simples e elucidativa, sem aquelas viagens mirabolantes e complicadas em cada frase como aconteceu em "A Desumanização".

São pequenas histórias tocantes, belas, comoventes, nas quais ficamos a pensar até muito depois de as termos lido. O livro físico, em si, também é especial, com todos os rebordos pintados a vermelho. Mas não é só de letras que ele se faz - antes de cada conto somos presentados com duas ilustrações de talentosos artistas.

É amoroso, emocionante, uma óptima leitura e uma belíssima prenda para alguém de quem gostemos muito.

Contos de cães e maus lobos
De: Valter Hugo Mãe
Ano: 2015
Editora: Porto Editora
Páginas: 160

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.

A revista Visão começa o ano com uma fantástica iniciativa para promover os bons hábitos de leitura: uma colecção de livros clássicos e indispensáveis a qualquer biblioteca caseira, de oferta com a revista! 

Já cá canta a "A Quinta dos Animais" do George Orwell, que é apenas o primeiro dos títulos que se podem adquirir numa colecção que traz ao mais vasto público grandes obras da literatura universal sempre actuais e, desta maneira, a preços acessíveis.

Saibam mais no site desta iniciativa Ler Faz Bem. Uma excelente maneira de enriquecer ainda mais os nossos dias!
E eu vou, feliz e contente, com os meus best friends debaixo do braço!


Valter Hugo Mãe é o autor de um dos meus livros favoritos de sempre - "O Filho de Mil Homens" - que, ainda por cima, foi o primeiro que lhe li e elevou as expectativas. Na minha última ida à biblioteca trouxe três exemplares do autor, e este, "A Desumanização", foi o que ataquei primeiro. Mas não teve comparação.

A trama passa-se nos fiordes islandeses, onde uma criança de 12 anos perde a irmã gémea. Após a morte desta, tudo muda na já disfuncional família. A criança engravida do tolo da aldeia. A mãe corta-se para esvair a dor e corta também a filha que sobrou. O pai assiste e faz poemas. Tudo isto é estranho e estou a resumir toscamente, mas foi muito difícil apanhar o fio condutor da história, ainda para mais com a escrita "poética" do autor, onde é fácil nos perdermos no meio de frases que são uma tentativa demasiado rebuscada de transcendência. Torna-se enfadonho.

Apesar da narrativa se arrastar e ser difícil de acompanhar no meio de tanto capricho, existem partes positivas. Há palavras que são uma autêntica lição de vida, coisas que são ditas de forma tão bela que nos obrigam a ler e a reler porque sabem tão bem, descrições sobre a Islândia que são autênticos retratos com cheiros, cores e temperaturas que acabamos por sentir.

Vamos ver como correm as próximas leituras do autor, mas este livro pareceu-me sobrevalorizado e não compreendo o burburinho.

A Desumanização
De: Valter Hugo Mãe
Ano: 2013
Editora: Porto Editora
Páginas: 248

A nossa pontuação: ★★☆☆☆
Disponível no site Wook.









As muito esperadas (e muito históricas) tertúlias no Martinho da Arcada regressam em 2017, e isso por si só já é motivo de festejo! Por lá irão passar nomes importantes da nossa cultura, começando em Eunice Muñoz já no próximo dia 20 de Janeiro e terminando, em grande, com o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa no dia 4 de Abril.

Por 20 euros, mediante reserva que se recomenda seja feita rapidamente, podemos jantar com figuras de relevo e que, garanto, vale bem a pena ouvir. As tertúlias do Martinho da Arcada criam sempre um fantástico ambiente de conversa e debate e de abertura de ideias e mentalidades.

Um regresso desejado e que promete tudo de bom! Não é todos os dias que podemos jantar onde jantou Pessoa enquanto ouvimos falar o Presidente!

Saibam mais sobre as datas e presenças no Diário de Notícias. A não perder!



O pior é que muitas vezes estes bichanos ficam a olhar para nós exactamente assim!
Malandros!

Os inspectores da PJ Ernesto e Mauzinho enfrentam um caso difícil - Sofia Olsten, uma actriz e modelo, bonita, elegante e socialite, presença diária nas telenovelas e revistas cor de rosa, foi brutalmente agredida e roubada à saída do ginásio que frequentava. Há também a suspeita de que foi violada e muitos mistérios giram à volta do caso, que tomou proporções exageradas devido à fama de Sofia.

Os talentosos inspectores vão meter-se por caminhos perigosos que os vão levar a outros crimes violentos e enfrentar gente que normalmente não gosta de ser confrontada para chegar ao cerne da questão. Por fim, deparam-se com algo muito maior do que estavam à espera e que envolve nomes muito importantes e intocáveis.

É um policial com alguns toques de humor no meio de uma trama que se poderia ter passado à nossa porta. Gostei bastante, embora a história não seja surpreendente. A linguagem é leve mas inteligente e acutilante, as personagens são muitíssimo bem retratadas e sentimos imediatamente uma intimidade com elas, e a forma como está escrito, apresentando a perspectiva de cada uma em cada capítulo, dá uma certa velocidade e novidade à acção.

Este foi o primeiro romance de Ricardo Dias Felner, nascido em Maputo, mais conhecido como jornalista.

Herói no Vermelho
De: Ricardo Dias Felner
Ano: 2011
Editora: Quetzal
Páginas: 272

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
As estantes estão caras e há formas mais criativas e, sobretudo, baratas, para organizarmos os nossos livros. Aqui ficam algumas ideias - vejam como umas ripas de madeira, gavetas ou bocados de couro são suficientes para desempenhar o papel, de forma original e poupada!








Com o Alentejo como pano de fundo, são-nos apresentados os habitantes de uma terreola. Lá, os hábitos são antigos e as pessoas também. Antónia é uma das mais antigas e, apesar de já não andar e pouco ver e ouvir, tem o sonho de visitar a Terra Santa para poder morrer descansada. 

A sua neta Rosa, moça simples de parcos sonhos e buço avantajado, move mundos e os fundos que não tem para manter viva a avó e a ela própria. Mesmo na pobreza e na timidez, a rapariga desperta amores. É o Professor, homem graúdo mas apaixonado pela jovem, que tem a ideia de trazer Jerusalém até ao Alentejo, arrastando consigo toda a gente da aldeia na elaboração da benéfica farsa que fará da velha feliz e de Rosa eternamente agradecida.

Foi um livro que custou a arrancar. As personagens são mais que muitas e cada uma delas tem muitas histórias dentro de si, e não pareciam interligar-se. Foi confuso, ao início. Quando tudo começou a fazer sentido a narrativa fluiu e acabei por adorar o livro. Dentro de cada um dos habitantes mora uma rede complexa de experiências de vida e emoções que torna tudo belo e entrelaçado como uma unidade maior. A leitura flui leve mas marcante e poderosa como um rio. Afonso Cruz é já um dos autores portugueses contemporâneos que mais aprecio e este livro só o confirma mais veementemente.

Jesus Cristo Bebia Cerveja
De: Afonso Cruz
Ano: 2012
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 252

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.


O humorista Ricardo Araújo Pereira (RAP), que todos nós conhecemos de outras e muitas paragens, escreve este livro quase em tom de manual para quem quer fazer humor. Mas é mais do que isso. É um pequeno documento histórico onde nos são apresentados vários exemplos do que de melhor se fez no humor ao longo dos séculos.

Desde Chaplin, passando por Woody Allen, Tarantino, Seinfeld e até pel'Os Maias, entre muitos outros, vamos compreendendo melhor o humor e como certas nuances nos podem ter passado despercebidas em obras que conhecemos, ou pensávamos conhecer, bem.

Dividido em 'técnicas' de fazer humor (como "aumentar uma coisa" ou "imitar uma coisa"), este pequeno livro denota acima de tudo a inteligência de RAP e o seu querer partilhar bons momentos e algumas gargalhadas e, neste caso, História e conhecimento.

A doença, o sofrimento e a morte entram num bar 
De: Ricardo Araújo Pereira
Ano: 2016
Editora: Tinta da China
Páginas: 112

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.


Este é o primeiro romance da jovem escritora californiana Emma Cline, que aos 27 faz a sua estreia no mundo literário.

Trata-se da história de Evie que, nos anos 60, é uma adolescente reservada até que um dia encontra umas raparigas que vivem em conjunto num rancho e que lhe chamam a atenção - são como que desprendidas do mundo, como se não quisessem saber das consequências das suas ações, das opiniões dos outros e do mundo. Uma delas em especial - Suzanne - desperta em Evie qualquer coisa mais. O seu olhar selvagem e despreocupado torna-a num ídolo para Evie, que nunca a esquece.

E quis o destino que se voltassem a ver. Evie idolatra Suzanne e tudo o que ela faz parece ser o correcto; todos de quem ela gosta Evie passa a gostar também; as acções que Suzanne tem, Evie imita. E aos poucos a adolescente reservada vai mudando conforme vai entrando mais no mundo de Suzanne e adoptando o seu estilo de vida.

Quando está totalmente embrenhada na nova amiga e a segue como um cordeiro para todo o lado, o desprendimento da sua antiga vida vai tomando grandes proporções - quase se esquece que um dia já teve outras amigas, que dormia sempre no seu quarto de adolescente, que tem pais que se preocupam com ela, que andava na escola e tinha sonhos de menina. E tudo se desmorona. Como tudo o que é demais, torna-se perigoso. Um acontecimento vai mudar a vida de Evie para sempre. Será que valeu a pena ter deixado tudo para trás?

A ação vai alternando entre o tempo presente e o passado. Vemos o olhar inocente de Evie com 14 anos, e seguimo-la também em adulta, analisando tudo o que se passou com a frieza da distância e da maturidade. Apesar de se passar nos anos 60, reflecte um grande problema dos nossos dias e de todos os tempos - a necessidade, muitas vezes perigosa, que os adolescentes têm de seguir alguém e de se armarem aos cucos, com acessos de rebeldia injustificável.

Apesar da relativa normalidade do enredo, é um livro muito bem escrito, e se não soubesse nunca diria que é o primeiro romance de alguém. Há que dar os parabéns a Emma e esperar pelas próximas aventuras nas letras.

As Raparigas
De: Emma Cline
Ano: 2016
Editora: Porto Editora
Páginas: 272

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook
E começamos o ano com um balanço do que melhor se fez em termos de capas de livros. São daqueles casos raros em que podemos julgar o livro pela capa! As escolhas são do Buzzfeed e podem consultá-las todas aqui. Das escolhidas, este é o meu top 5. Boas leituras para 2017!