É numa estrada isolada na Galiza que a história começa, mas não foi aí que teve o seu início. Aí, nessa viagem, onde um javali é acidentalmente atropelado, os dois protagonistas, o narrador e mexicano Saldaña Paris, já vão adiantados no conhecimento que têm um do outro, mas esse é um ponto de viragem, onde o mexicano deita cá para fora pormenores nunca contados da sua vida.

O narrador, divorciado e com uma filha adolescente, professor universitário e radialista fora de horas, começa a reparar em Saldaña Paris a tocar numa rua de Pontevedra, onde mora. Um dia, toma coragem e mete-se com ele, apercebendo-se da tristeza no olhar que este homem carrega, uma coisa profunda como se não houvesse volta a dar.

Há uns tantos anos atrás ele havia sido casado com uma mulher, Teresa, que morreu. Deixou-lhe um manuscrito que ele nunca foi capaz de ler. E pede ao seu recente amigo, o narrador, que o leia por ele. E este assim o faz, embrenhando-se numa história inacabada e envolta em mistérios. O narrador não vai descansar até tirar todas as dúvidas que o manuscrito lhe impôs e, tendo como motor a profunda amizade que sente ao mexicano, vai mover mundos para chegar ao cerne das questões - só as respostas podem tirar o seu amigo da profunda melancolia em que se afundou.

Esta livro é uma viagem demorada ao âmago de uma mulher atormentada e de um homem em cacos, encetada por um sentimento de companheirismo quase irreal. Tenho adorado tudo o que tenho lido de João Tordo e este livro não é excepção, mas o que é certo é que só me apercebi perto do fim o quanto gostei. Senti uma serenidade inesperada, inspirada por um tipo de escrita sem artifícios mas cheio de significados. A história não é complicada - é, sim, um pouco irreal, e daí não ter atingido, para mim, a perfeição, e também por ser um pouco longa demais - mas é bela e, ao mesmo tempo, negra, expondo o que de melhor e pior o ser humano é capaz.

Biografia Involuntária dos Amantes
De: João Tordo
Ano: 2014
Editora: Alfaguara
Páginas: 424

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.
Eu já! Mas foi no comboio... até o pescoço doer!



Junte os seus melhores amigos e tire uma selfie que realmente valha a pena! 😃


A minha colega de blog disse-me que, após ler o Werther, tinha de ler o Cândido de Voltaire. E aceitei prontamente a sugestão.

Neste clássico, Cândido é um jovem que vive num castelo na Vestfália e tem como mestre o filósofo Pangloss, cuja filosofia de vida positiva é assimilada por Cândido. Quando este é apanhado a trocar beijos proibidos com Cunegundes, filha do barão do castelo, é vergastado e expulso, e aí começam as suas aventuras sem fim pelo mundo inteiro.

Acontece-lhe desgraça atrás de desgraça mas, mesmo assim, vai descobrindo que se safou de algo ainda pior, permanecendo com a sua filosofia positiva, até algo ridícula, de que "tudo acontece pelo melhor". No decorrer da sua vida nunca esquece Cunegundes, com quem sonha casar, aconteça o que acontecer. E esta vai, de facto, voltar a aparecer na sua vida, das formas mais desconexas.

Atravessamos vários cenários com Cândido, desde a guerra, passando pelo Eldorado, um sítio ermo onde a riqueza cresce em todo o lado, até ao Paraguai. Mas o mais interessante para nós será decerto a sua passagem por Lisboa, ainda com o terramoto bem fresquinho, onde as nossas gentes e a nossa comida, claro, entram com grande destaque.

Gostei bastante do livro, mas é uma sátira demasiado forte até para mim. As desgraças que acontecem são mesmo um exagero total de qualquer realidade e acontecem a um ritmo difícil de acompanhar. Há coisas que acontecem mas depois não foi nada assim como foi dito, o que torna tudo muito surreal. Apesar de preferir literatura mais terra-a-terra, é um grande livro que gerou muita polémica, que combate muitas ideias pré-feitas, um precursor do humor negro, da sátira e uma forte crítica social.

Cândido
De: Voltaire
Ano: 1759
Editora: Guimarães Editores
Páginas: 179

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
Uma colecção de livros inspirados em mulheres reais e nas suas dificuldades e superações vai estar disponível nas livrarias portuguesas a 3 de março. A data não é ao acaso, visto que o Dia da Mulher é logo na semana seguinte.

Editados pela Tinta da China, os livros são escritos por Nadia Fink e ilustrados por Pitu Saá e vão-nos dar a conhecer mulheres únicas. O primeiro livro, por exemplo, é dedicado a Frida Kahlo, pintora mexicana conhecida de todos nós, que tinha uma perna defeituosa e que inventou um estilo único e inimitável.

O facto da colecção ter a premissa das "anti-princesas" deve-se ao facto de se querer enfatizar que estas mulheres não têm super-poderes mas são super-poderosas, e que são as mulheres reais que podem efectivamente mudar o mundo. Uma óptima premissa, aguardamos pelo lançamento!

Mais informações no site Público.


Em cada capítulo, uma aventura sexual com uma mulher diferente. Somos avisados no início do livro que não é aconselhado a menores, mas discordo totalmente. Se há maneira de descrever o sexo de forma elegante e usando todos os recursos da língua portuguesa, ela encontra-se neste livro. E os jovens sempre podiam aprender alguma coisa, que as suas bocas estão cheias de palavreado pouco abonatório para o tema.

O narrador conta as suas histórias com várias mulheres e é com delicadeza que as descreve, as suas preferências, neuras, fetiches, a forma como encaram as relações sexuais com um desconhecido, ou quase. É um livro inteligente que nos entretém e nos faz sorrir e corar um bocadinho.

A escrita de Mário de Carvalho não é simples e directa, mas é bela e natural. É preciso saber saborear, e às vezes reler, para descobrir convenientemente o sentido do dito e do não dito. Arrisquem, lê-se em poucas horas.

Ronda das Mil Belas em Frol
De: Mário de Carvalho
Ano: 2016
Páginas: 104
Editora: Porto Editora

A nossa pontuação: ★★★★☆
Dsponível no site Wook.
Já abriu no Cais do Sodré, em Lisboa, uma nova livraria, de seu nome bem sugestivo. Menina e Moça, que conhecemos de outros versos, é o novo local onde se pode ler e beber um copo. Está aberta até às 02h00 e é um lugar cheio de estilo e páginas por descobrir, especialmente de autores lusófonos.

Descubra este novo retiro na Rua Nova do Carvalho, admire o tecto ilustrado por João Fazenda, os grafitis de Smile e Rafa, aproveite e prove ainda um dos muitos chás disponíveis ou petiscos: uma variada carta de vinhos, o caldo verde, a bola vegetariana ou a canja são algumas das opções.

Uma autêntica homenagem à nossa capital, com um espírito bem lusitano que promete ser um ponto de passagem obrigatório para os amantes de livros, de arte, e não só.

Via Visão.







Deitem-se tarde... se valer a pena! 😏


Ela tem uma idade indefinida e segredos por descobrir. Ele chama-lhe Winnie, todos chamam, mas na verdade não sabe o seu nome verdadeiro. Agora, pesa-lhe na consciência não ter tido a curiosidade necessária para o saber.

Ele e Winnie viveram uma história, talvez de amor, talvez não, mas uma história. Com pormenores bonitos e alguma paixão, muitas recordações e um amadurecer, um crescer, que mais ninguém seria capaz de lhes proporcionar. A maturidade fez com que aceitassem o fim inevitável daquela história, e procuraram outras, inevitáveis.

Winnie marcou-o e intrigou-o como ninguém o havia feito. E vai surpreendê-lo até ao fim. Ele vai ter nas mãos as suas palavras e recordar os seus gestos e a sua linguagem inimitáveis, e recordar é amar, finalmente.

António Mega Ferreira apresenta-nos esta pequena novela que é autêntica poesia. Um pedaço de sensações e de amor espalhado nas breves, mas intensas, páginas. Uma leitura que se faz em horas mas que perdura por muito mais tempo.

Amor
De: António Mega Ferreira
Ano: 2002
Editora: Assírio & Alvim
Páginas: 80

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.
Ora tenham um rico dia dos namorados! E se forem solteiros, enamorem-se por um livro, por exemplo... pois que isto mais vale ter um livro na mão do que estar mal acompanhado ;)



A Dra. Temperance Brennan é antropóloga, especialista em ossos, e colabora com várias entidades para chegar ao fundo das questões que os envolvem. Este livro começa com 'Tempe' a desenterrar três esqueletos da cave húmida de uma pizzaria.

À medida que vai analisando o conjunto de ossos que tem à sua frente descobre pormenores macabros, como o facto de pertencerem a três jovens raparigas. Enfrentando as suas chefias, que não acreditam que estes ossos sejam recentes, ela vai mostrar a sua garra e sagacidade para chegar ao fundo da questão sobre o que lhes aconteceu, e descobrir muito mais do que pensava, enredando-se num esquema negro do qual vai ter de batalhar para sair incólume.

A ação decorre a um bom ritmo, e a autora tem aquele talento de nos deixar com vontade de saber o que virá no próximo capítulo. As personagens são bem construídas e temos pontos para nos agarrarmos a todas elas. Os pormenores negros e macabros da história dão-lhe aquele choque necessário para justificar toda a acção.

E agora podem estar a pensar que conhecem estes pormenores de algum sítio... pois é. Foi inspirada nos livros desta autora que a série Ossos foi criada. Este é apenas um volume dos vários que envolvem a Dra. Temperance e que inspiraram a série mundialmente conhecida. Até gostei do livro (mais do que da série) e se apanhar outro volume na biblioteca vou equacioná-lo.

Ossos Perdidos
De: Kathy Reichs
Ano: 2007
Editora: Texto Edtores
Páginas: 286

Disponível no site Wook
A nossa pontuação: ★★★☆☆
Ou então não 😉

Ora aqui está um grande clássico da literatura mundial que quase todos conhecem, nem que seja de ouvir falar. Precursora do romantismo, a obra é auto-biográfica, embora nomes e lugares tenham sido alterados, bem como o trágico final.

O narrador, através de cartas enviadas ao seu amigo Wilhelm, transmite-nos uma das mais poderosas e assoberbadas histórias de amor de sempre. Assim que Werther meteu os olhos em Charlotte o seu mundo mudou. O rosto e os olhos dela passaram a ser tudo o que ele queria ver; tocar-lhe, nem que fosse ao de leve, ao passar por ela, fazia o seu dia; ouvi-la, vê-la sorrir e interagir com os pequenos irmãos enchia-lhe o coração de um amor terno que nunca havia sentido.

Mas Charlotte estava prometida a outro homem - Albert. A cada dia que passava, Werther percebia que ela nunca seria dele, mas mesmo assim não era capaz de se afastar nem de parar de sonhar com ela e em tê-la nos braços. A sua luta interior é palpável e tangível e pressagia um fim negro. Tudo é trágico - o seu sentimento que nunca terá o retorno pretendido, a sua vontade em acabar com tudo, as suas tentativas falhadas de afastamento. Tudo é elevado aos píncaros mais altos da paixão suprema, e não podemos deixar de sentir a comoção deste homem e sentirmos remorso por ele.

Esta história foi tão forte que na altura gerou uma onda de suicídios chamada de "efeito Werther", e as paixões assolapadas e impossíveis nunca mais foram as mesmas. Vale a pena ler, se ainda não o fez, não só pela mítica história como pelo modo que está criada, numa linguagem e com um cuidado que se perderam no tempo.

Werther
De: Johann Wolfgang von Goethe
Ano: 1774
Páginas: 176
Editora: Guimarães Editores

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.
"So Let It Be Written" é uma parte da música Creeping Death, uma das mais conhecidas e poderosas músicas dos Metallica, e agora é também o título da biografia não autorizada de James Hetfield, o vocalista da mítica banda.

Da autoria de Mark Eglinton e com prefácio do vocalista dos Testament, o livro será editado em abril deste ano. Para os que mal podem esperar já foi disponibilizada uma amostra aqui.

O livro contará a história do vocalista e guitarrista e também da banda, desde o momento em que foram pioneiros no heavy metal até se tornarem nuns dos maiores deuses deste tipo de música. James terá tido de ultrapassar variadas situações, umas que são conhecidas do público e outras que ainda são segredo, até se ter tornado no ídolo que é hoje, no líder incontestável de uma das maiores bandas do mundo. Os seus fãs vão decerto adorar esta prenda de Páscoa! Eu, decerto, irei!

Através de uma linguagem leve, mas acutilante, o escritor israelita Etgar Keret descreve sete anos da sua vida. Tal como o título indica, foram Sete Anos Bons, que nos são contados desde o nascimento do seu filho, Lev, até à morte do pai.

E apesar de o seu filho ter nascido quase no meio de um atentado terrorista, e apesar do peso do cancro que o seu pai carregou nesses anos, é com uma visão positiva da vida que somos presenteados. É-nos contado, através de pequenas histórias, o crescimento do filho, com episódios cómicos e caricatos que caracterizam as tenras idades. Passeamos por Israel, conhecemos os cheiros, as ruas, aprendemos mais sobre o judaísmo pela primeira pessoa, visto que os pais do escritor são sobreviventes do holocausto. Assistimos à reunião familiar com os irmãos depois da morte do pai, irmãos esses que escolheram uma vida completamente diferente da dele.

E sob um olhar religioso, com algum humor negro à mistura e um grande jeito para contar histórias (não fosse o autor conhecido pelas suas curtas) é um livro excelente que se lê num instante, e que nos dá a conhecer tanto, até ficarmos de coração e espíritos cheios.

Sete Anos Bons
De: Etgar Keret
Ano: 2013
Editora: Sextante
Páginas: 184

Disponível no site Wook.
A nossa pontuação: ★★★★☆
Já foi em 1995 que o Toy Story foi lançado e tornou-se rapidamente numa história eterna, com muitos valores morais incutidos. A Moleskine lançou uma colecção baseada neste filme e é um amor.

"Para o infinito e mais além" é daquelas frases que vão ficar para sempre, e sob a perspectiva de que nunca somos demasiado velhos para escrever, desenhar e partilhar palavras esta coleção ganhou vida. O Woody e o Buzz Lightear conquistaram o coração de crianças e adultos, que podem agora perpetuar essa boa recordação que promove, entre outras coisas, a amizade.

Para acompanhar o lançamento foi até criado o vídeo que podem ver em baixo. Saibam tudo no site da Moleskine.


É na primeira pessoa que o Diabo, Príncipe das Trevas, Senhor das Moscas, nos conta a sua história. O Velhadas lá de cima convidou-o para uma experiência - passar um mês na pele de um humano, o escritor Declan Gunn (claramente um anagrama do nome do autor, Glen Duncan) e ele aceitou.

Habituar-se a ter um corpo físico não foi fácil (apesar de que fugir às dores e sofrimento eternos por um bocadinho seja bastante agradável), mas isto de ter necessidades fisiológicas, cinco complicados sentidos e, imagine-se, sono e sonhos, é muito esquisito e novo para o Anjo Caído.

Ora isto é uma chance de redenção, mas Lúcifer toma-o como umas férias. No entanto, aprende que ser humano é mais complicado do que aquilo que parece. Ainda por cima, o corpo receptor pertence a um escritor com ideias suicidas, o que lhe dificulta o trabalho simples de aterrorizar toda a gente.

É um livro com um alto nível de sarcasmo e que provoca imensas gargalhadas. É polémico, provocador, e apresenta versões dos acontecimentos fornecidos pelo catolicismo completamente distorcidas e subversivas. A minha maior crítica é o ritmo da acção - é demasiado alto. Está sempre a acontecer qualquer coisa, os acontecimentos são narrados a velocidade máxima e o pensamento do Diabo não é nada linear. A acção tem vários saltos, principalmente temporais e, aliado à velocidade, torna-se difícil acompanhar. Ainda assim, é altamente recomendado a quem gosta de leituras pouco convencionais e que fujam à normalidade.

Eu, Lúcifer
De: Glen Duncan
Ano: 2003
Editora: Publicações Europa-América
Páginas: 240

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
A Associação de Jovens Voluntários de Gaeiras (JVG), no concelho de Óbidos, teve uma grande ideia - distribuir livros de bicicleta em locais mais isolados da freguesia. Assim, todos os últimos sábados de cada mês, os livros são levados até à porta dos habitantes através deste projecto - a Bibliocleta.

E não se trata apenas da distribuição - cada livro é acompanhado de um envelope com um documento onde o leitor poderá deixar os seus pensamentos acerca do livro, que acompanharão o mesmo nas futuras partilhas. Cada leitor receberá livros dentro dos géneros que mais gosta.

O serviço é grátis e basta preencher o formulário para dar início ao processo de inscrição. É uma grande ideia que distribui conhecimento, sabedoria e proporcionará grandes momentos a várias pessoas. Um modelo simples,a seguir e a copiar!

Via Sapo 24


Ahahah... miudagem! Já sabem o que fazer quando a internet falhar 😉