A primeira história do urso Paddington foi escrita em 1958. E o seu autor, Michael Bond, que faleceu há poucos dias, escreveu praticamente até ao fim da vida, tendo lançado a última aventura do adorável urso em Abril último.

Michael Bond partiu aos 91 anos, e deixou com ele uma das personagens mais acarinhadas de sempre que até teve adaptação cinematográfica há poucos anos. O urso natural do Peru e que adora marmelada é um exemplo de entusiasmo e optimismo que marcou várias gerações.

Que descanse em paz.


Acalmem-se corações ansiosos, sosseguem almas inquietas! A nova temporada de Game of Thrones estreia já no próximo mês, dia 17, no canal Syfy.

Depois de tanta espera finalmente o Inverno mais desejado está prestes a entrar-nos pelo ecrã com a sua neve de intrigas e tempestades de personagens sanguinárias. Como este blog tem a sua componente de serviço público, cabe-nos informar que quem perdeu um ou outro episódio das últimas temporadas não precisa mais de entrar em modo auto-punitivo: todas, repito, TODAS as temporadas completas vão ser emitidas no canal Syfy de 11 a 16 de Julho.

Preparem as pipocas, vai ser uma maratona épica! E para quem nunca viu a série, bem... está na hora de corrigir isso!*



*Aviso! Caso não procedam à correcção: não nos responsabilizamos se forem perseguidos mortalmente por white walkers ou se forem condenados a casar com a Cersei ou se forem comidos pelos dragões enquanto a Daenerys pega fogo às vossas coisas. Fica o aviso. 
Com esta opção, nunca se está mal acompanhado...


Ah pois é... esta até já me calhou. Ficarem indignados por eu pegar num livro, e depois não tiram os olhos dos telemóveis! Que lata! Mais valia pegarem em livros também...





Ora aqui está um clássico intemporal imperdível. O livro, lançado em 1842, conta a história de Júlia em várias fases da sua vida. Está dividido em seis partes, cada uma correspondendo a uma idade e fase desta mulher que carrega em si um peso enorme do início ao fim.

Contrariando os conselhos do pai, casa com o homem errado
Ainda era uma jovem quando se apaixonou pelo coronel Vitor D´Aiglemont. Contra todos os avisos do pai, que tentou por todos os meios dissuadi-la de o fazer, acabou por casar com ele, e não demorou muito até dar razão ao progenitor. Viu-se presa num casamento sem cor com um homem de integridade duvidosa que não fazia o mínimo esforço para compreender a mulher.

Um jovem inglês misterioso aparece na sua vida
A um certo momento, um jovem inglês aparece na vida de Júlia, que fica lisonjeada por aquilo que parece ser um interesse romântico por ela, mas nada ela pode fazer, afundando-se num sentimento de obrigação e lealdade perante o marido. Infeliz, prossegue a sua vida até o inglês aparecer de novo, desta vez tornando-se um amigo da família e, como tal, mais perto do coração de Júlia.

A vida de Júlia prossegue com um grande peso
Os anos vão passando, Júlia e o marido vão-se evitando, mudam várias vezes de local devido às exigências da guerra, e até acabam por ter filhos. Mas vivendo vidas cada vez mais separadas, Júlia apaixona-se novamente por outro homem, mas uma grande desgraça vai bater-lhe à porta, atirando-a ainda mais para o abismo e nada parece fazê-la conseguir sorrir de novo. Vemos as décadas passar por esta mulher à medida que os filhos vão crescendo e algumas pessoas à sua volta vão desaparecendo.

Gosto destas histórias trágicas e que retratam tempos bem diferentes daqueles que vivemos. Aqui, principalmente, quando a mulher era abalada pela infelicidade mas escolheu uma vida recatada, calma e serena, aceitando a sua depressão, fazendo esta já parte da sua personalidade. As descrições, tanto dos vários cenários, das casas, das roupas, e também, claro, dos sentimentos, são de um realismo fantástico e raro. A narrativa é densa mas nunca baixa o ritmo, pelo que não se torna cansativa.

A nota final tem de ser dirigida ao foro psicológico desta personagem feminina, numa abordagem rara em que esta é vítima mas ao mesmo tempo a culpada da sua depressão. Punindo-se a ela primeiro, e aos que a rodeiam depois, carrega uma aura de mártir desnecessária que nem a sua beleza consegue esconder.

A Mulher de Trinta Anos
De: Honoré de Balzac
Ano: 1842
Editora: Difel
Páginas: 180

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.

O Centro Nacional de Cultura abraça mais uma edição do projecto Disquiet, que traz ao nosso país cerca de 90 escritores norte-americanos que, durante 15 dias, vão participar numa Universidade de Verão onde os autores vão ter "um contacto tão abrangente quanto possível com diferentes aspetos da cultura portuguesa, destacando naturalmente o literário, dando-lhes assim a oportunidade de conviver com escritores e poetas lusófonos de diversas gerações, instituições ligadas à cultura portuguesa, etc.”, segundo o CNC.

Esta iniciativa fantástica conta também com autores portugueses convidados como José Luís Peixoto e Gonçalo M. Tavares e pretende aproximar as culturas, possibilitando aos visitantes a oportunidade de criar laços e desenvolver conhecimentos que serão uma mais-valia evidente para a criação literária.

Saibam mais sobre o Disquiet 2017 no site oficial do CNC e aproveitem para conhecer melhor os escritores e formadores convidados, os eventos paralelos e o programa completo de dia 25 de Junho a 07 de Julho. Visitem também o site oficial do Disquiet que é puramente brilhante. 


Esta publicação nasce do amor que sinto por esta música e como uma homenagem ao autor Manuel Alegre que, finalmente, depois de décadas a cantar a liberdade nos seus versos foi honrado com o Prémio Camões. Parabéns ao poeta, aqui cantado na voz de Carlos do Carmo. Eterno.

Eu podia chamar-te pátria minha
dar-te o mais lindo nome português
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.

Mas não há forma não há verso não há leito
para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.

Gostar de ti é um poema que não digo
que não há taça amor para este vinho
não há guitarras nem cantar de amigo
não há flor não há flor de verde pinho.

Não há barco nem trigo não há trevo
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.

Eu cá não acredito em coincidências :P



Livros nunca são suficientes, pá!


É ou não é? :)

Ele pode ter feito cocó no sapato... mas quem é que consegue ficar zangado com esta carinha linda? Este livro reúne cartas do cão Doggie para os seus donos que o adoram, a desculparem-se pelas asneiras que fazem. Foi escrito pelo comediante Jeremy Greenberg e contém 50 cartas acompanhadas com fotos que, apesar da estranheza, aposto que são super amorosas!

Disponível na Amazon.



João Melo, escritor e jornalista angolano, oferece-nos neste livro uma série de pequenas histórias que têm como protagonistas homens comuns, que à partida não teriam nada de assinalável para serem os actores principais de história alguma.

Mas acontece que é na normalidade que se escondem segredos de várias ordens, e é-nos mostrado, por A mais B, que cada um deles, assim como cada um de nós, somos merecedores da atenção. São-nos revelados pormenores das suas vidas com muito humor negro, descrições super cómicas e situações inusitadas que revelam estes seres, à partida, envoltos em normalidade. O nome do livro advém da primeira história do livro, sobre o homem que não tira o palito da boca, esse protagonista que mais tarde ou mais cedo todos encontramos na nossa vida, que nos causa um misto de repugnância e curiosidade...

A escrita é muito assertiva mas cheia de estilos; bastante explicativa, perfeccionista e requintada, explorando vários temas pertinentes e eternamente actuais, em especial na realidade Angolana - a família, o dinheiro, o racismo, a prostituição ou a indecência. Nem Portugal escapa às críticas, sendo mencionado mais do que uma vez...

Um livro para descobrir de alma aberta, mascarado como uma brincadeira, mas que denuncia e incomoda na sua ironia permanente.

O Homem Que Não Tira o Palito da Boca
De: João Melo
Ano: 2009
Editora: Caminho
Páginas: 176

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
Poderia ser mais uma das pessoas a parabenizar o Salvador (e sou). Poderia ser mais uma das pessoas a dizer que esta música da Luísa é uma bela homenagem à simplicidade harmoniosa da nossa língua (e sou). Poderia até ser mais umas das pessoas a agradecer a ambos o facto de terem sacudido o glitter plastificado e a maquilhagem esborratada do Festival da Canção e criado uma música que vale por si, sem artifícios (e sou). Mas prefiro apenas ser uma das pessoas que fica calada a ouvir, porque a música, quando é assim, vale por si e tem voz própria, sem necessitar de advogados outros que a sua natural e indiscutível qualidade.

Deixo um suspiro de alívio e um "Graças a Deus! Ainda há poetas e trovadores em Portugal." Cantemos:
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender.

Se o teu coração não quiser ceder 
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois.


Eu avisei que sofria de esquizofrenia literária. Isto dito, em seguimento desta publicação, hoje venho falar de mais um livro que marcou a minha juventude : "A Metamorfose" de Franz Kafka

Como qualquer boa adolescente amante de literatura, sem borbulhas ou óculos, mas transtornada com as questões do Ser, tive a minha fase existencialista. Assoberbada de hormonas e nos meandros do auto-conhecimento dediquei meses à leitura dos mais variados títulos de Camus a Malraux e embrenhei-me nos fantasmas Kafkianos como que bêbada de vontade de sentir o Nada em pleno. 

Foi neste inebriamento que se destacou o "A Metamorfose". Caminhei lado a lado com Gregor Samsa, no absurdo da sua dor e solidão, página a página, sofregamente e ansiosamente à espera de respostas: como um insecto? Porquê uma maçã? De onde vem esta aceitação bolorenta do monstruoso?

Lembro distintamente, como se fosse hoje,  a náusea que me acompanhou durante esta leitura. Um insecto porque é insignificante, tão repugnante aos outros que repugna o próprio; uma maçã, talvez por representar o conhecimento, como quando nos vemos ao espelho e à nossa fealdade (a do Homem) de tal forma que esse conhecimento se impregna como erva daninha no espírito; aceitação, talvez porque nada mais resta do que estar conformado com a solidão, a exclusão... afinal, de que outra forma sobreviveríamos à crueldade humana e à alienação inevitável da sua natureza?

As obras de Kafka são como uma chapada, ou melhor, um murro no estômago. Nelas se vê o Humano nú, fragmentado, disperso em pensamentos e acontecimentos que parecem perder na lógica o que ganham em verdade. O absurdo é um recurso natural nos livros de Franz, as personagens e enredo afogam-nos desde as primeiras palavras num estado de estranheza que nunca mais nos larga:

"Metamorfose", Paula Rego
"Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto."

Assim começa o livro. Sem introdução colorida nem floreados descritivos, apenas assim. Uma obra marcante, inquietamente simples na escrita, mas uma leitura humanamente complexa nas questões que desperta. Para sempre na memória.

Mais sobre o livro na Wook.
Armando Silva Carvalho, falecido ontem aos 79 anos, foi um verdadeiro homem dos sete ofícios. Mais conhecido pela sua poesia, também foi advogado, jornalista, tradutor, professor e publicitário. Nascido em 1938, estreou-se na poesia em 1965 com "Lírica consumível", trabalho com que recebeu o Prémio Revelação da APE.

Foi uma carreira recheada de prémios, sendo o mais recente o prémio literário Casino da Póvoa, em 2016, pelo livro "A Sombra do Mar". Afirmando sempre que não era um autor culto, destacou-se pelo olhar irónico, comovente e lúcido sobre o tempo. 

E como homenagem, aqui fica um poema do autor, presente em "Sentimento de um Acidental", e que, como se pode ver, é intemporal. E, para bom entendedor... já se sabe.

"Neste país onde ninguém sabe
como obram as musas,
já dizia o outro,
fazer versos realmente versos,
que sigam o espasmo do ânus provecto
dessas criaturas fúteis, decantadas,
ainda é e será muito difícil.

Existe sempre um braço etéreo
que puxa o autoclismo
no momento exacto da defecação.
Ouve-se um ruído,
alguém pergunta ao outro o que se passa:
«É o som das águas que bate na garganta.»
Aliviados então os corações repousam
na sala de visitas da casa devassada
a que chamam d'alma"

Sim... ou sim! :)